quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

carnaval, batizado e uma ou outra reflexão

a gente aproveitou o feriado de carnaval pra visitar minha irmã. todo mundo ajudando pra festa do batizado de minha sobrinha. na roça é assim, a festa já começa de véspera: varrer o terreiro, lavar a louça, descascar o milho... dá trabalho. não o trabalho de trabalhar, mas tudo isso de conhecer e conversar com as gentes. tem o vocabulário e o sotaque que a gente não tá bem acostumado. tem todas aquelas histórias e causos e costumes. tem todas aquelas relações de parentesco e amizade que sempre são citadas e vão dando um nó na cabeça da gente. mas você vai percebendo que ali, se você não conhece alguém, certamente conhece alguém que conhece: é amigo de, é parente de...

é um outro modo de vida, um outro ritmo. dá tempo das pessoas conviverem, se conhecerem, se respeitarem. eu vi isso ao saber do caso de dois irmãos que se afogaram, um tentando salvar o outro. a cidade ficou abalada, juntou muita gente no velório. a cada grupo que a gente travava contato o assunto era debatido e a tristeza, uma constante. mas se antes eu achava isso meio mórbido, hoje minha percepção é totalmente outra. é uma forma de lembrar que a morte está sempre aí, à espreita. também é um reconhecimento de que a cada pessoa que se vai, um pedacinho da gente vai junto. não tem nada de mórbido nisso, é como uma celebração da vida. daquela que se foi, daquela que está por vir.

no dia do batizado, eu ajudava a descascar o milho pras comidas da festa e aproveitava a ocasião pra conversar com a namorada sobre tudo e nada. ao mesmo tempo, meu menino brinca com uma liberdade que dificilmente encontra aqui na cidade: corre, pula cerca, se aventura até uma casa abandonada, faz galho de brinquedo, junta um bando de amigos que ao fim do dia não soube nem o nome. então minha vó aparece e conversa um pouquinho com a gente. dona anelina faleceu há muitos anos, mas ela veio na figura de uma tia de meu cunhado. você é o neto da anelina, pergunta enquanto se aproxima. confirmo, todo interessado na conversa que adivinhava que vinha chegando. e nos próximos minutos, ela vai explicando que ela e o irmão foram alunos de minha vó, que não aprendeu a ler muita coisa e até hoje não sabe fazer conta. mas aprendeu a ler um pouco e a assinar o nome. a senhora foi aluna da dona anelina até minha vó ficar grávida e eu só não consegui descobrir se o bebê que ela esperava era a menina que não cresceu para virar minha tia ou se era meu pai. não importa, o momento foi mágico.

agora, mágico mesmo é o céu a noite, nada a ver com o que a gente vê aqui na cidade. as estrelas meio que convidam a gente pra sentar na grama de madrugada e ficar conversando e conversando e conversando. ou só contemplando aquela beleza que vem pra gente de graça. e se vier neblina e frio, tanto melhor. ótima desculpa pra gente ficar mais juntinho, enrolado na manta...